O Papa

Estávamos vivendo naqueles dias em que a religião tinha perdido sua força. O poder centralizado em um único “deus”, em regras que não cabiam mais nos tempos atuais. Alguns ainda rememoravam as épocas em que eles acreditavam ter a glória divina. Ouro enfeitava todas as igrejas, sustentava todos os luxos dos senhores eclesiásticos. O principal deles, um senhor careca com olhos fundos, considerado de uma sabedoria ímpar, infelizmente tampava com peneira os raios de sol, fingia não saber dos pecados extraordinários. Essa ambiguidade de vossa santidade com o mundo real, o mundo dos homens e seus defeitos, lhe trazia muitos rumores de histórias tristes. Ele pensou “ainda que a fé dos homens consiga operar milagres, às vezes, e somente às vezes…” Essas notícias da ciência sobre um novo mundo, sobre um mundo mais justo, menos pobre, mais real e sentido, deixavam O Papa ansioso. Ele não veria tais mudanças, apesar de ter acompanhado nos últimos dez anos uma evolução tecnológica que não é seguida por toda essa humanidade. “A discrepância social faz com que o mundo se torne mesmo um filme”, ele continuou pensando sobre o assunto. “São tantas coisas novas, tantas possibilidades de melhoria, e ainda assim, sou um servo de Deus, em que eu creio, e isso pode por incrível que pareça, ser supérfluo num futuro próximo”.

Meditando silenciosamente em sua própria cabeça, cerrou os olhos e buscou a paz. As respostas demoram para vir, e por vezes não vinha. Era essa a grande peça que faltava no quebra-cabeça universal. Sabemos do que somos formados, sabemos da existência de outras galáxias com planetas, sabemos que pode haver outros tipos de vida, não temos mais esse preconceito. E apesar de não termos encontrado vida inteligente, como não crer que algo maior elaborou tudo isso, sendo com uma explosão inicial, com ideias de multiversos, ou com uma colisão entre eles. Uma energia única, um ser transformador que nos colocou aqui, para experenciarmos a maravilha do viver, e a evolução do morrer.

Quando O Papa abriu os olhos, levantou-se de seu trono dourado, e com o cetro flutuando à sua frente, revelou suas formas nanotecnológicas. Seus olhos eram como câmeras computadorizadas, seu braço esquerdo não era visível, porém conseguíamos observar uma energia brilhante que fazia o objeto pairar no ar. “Como questionar, aquele que concebe, se é aquele em que devemos ter fé!” O Papa então viveu eternamente.

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