Do Dia a Dia…

– E você não consegue esquecê-la?… ela perguntou com uma expressão séria, aos pulinhos mergulhava uma rosquinha na xícara de café com leite. Usava o rabo de cavalo que ele adorava. – Você já tentou se lembrar das coisas como foram na sua vida? Ele perguntou de volta, acendia um incenso de mirra e o baseado na sequência.

– Acho que não conscientemente. Ela colocou o dedo na ponta do nariz. – Já quis ser mais ligada de escrever diários, mas anoto poucas coisas. Ela deu um pulinho para perto dele. – Então… ela enroscou um dedo na barba dele. Ele se derretia com aquilo. – Esses sonhos recorrentes… ela prosseguiu… – O que você acredita que eles são? Algum tipo de sinal? Você tem vontade de vê-la? Todas as perguntas vieram de uma só vez atropelando tudo… a rosquinha derretia na morna temperatura do dia e ele a beijou lenta e provocante com leves mordiscadinhas…

Quanto tempo se passou não importa. Todos vamos ter muitas histórias para contar, alguns com mais detalhes, e outras não menos importantes, depende muito de para quem contamos e queremos compartilhar toda parte das memórias que temos…

– Não tenho vontade nenhuma e quero esquecê-la! Ele se apoiava na cintura dela, agora rebolosa se jogou sobre ele em cima da bancada de uma cozinha qualquer. Aquele janelão com a vista para o mar.

depois de fazerem amor, espreguiçaram seus corpos e ela foi colocar comida para o gato. Ele a acompanhou: – Como fazer para apagar algumas histórias ruins da memória? Ele a abraçou por trás e deu um cheiro no pescoço dela. Risadas. – Criando novas histórias!

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“Um Diálogo…”

– É tipo, como vou explicar, estar fazendo coisas o tempo todo ocupando o seu dia e sendo produtivo, em um sistema que gira certinho pra que todos acreditem nesse tipo de liberdade saca, zapear os filmes nos streamings!… ela gesticulava e balançava os peitos e a cintura ao mesmo tempo em que levava o baseado a boca e continuou: – EU estou longe! É como se em algum tempo eu perdi a conexão, e eu vivo nessa realidade de um mundo que não estou, pois sou do paralelo… ela gargalhou!

– Cara, você também pensa sobre isso! Esse sentimento agudo que começa sempre pelo umbigo, eu imagino sempre aquele cordão prateado que li em algum lugar, não lembro os títulos dos livros, algo sobre a alma ou energia vital, sei lá, estar ligada a essa matéria… ele pegou em seus braços apalpando… é o lidar com o dia a dia!… ela passou o baseado para ele e ele soprou a fumaça…

– É bem difícil imaginar outras realidades, outros tipo de vida, que se alimentam dessa energia e de boa, sem precisar fugir ou ser predador, só curtindo os lugares em que se passa, trocando ideias… ele falou lento e estava agora sentado em uma almofada dentro de sua kombi, ela também se sentou próxima…

– Eu tento, até tento… ela coça o queixo… e percebo que tenho essas limitações, meu cérebro até é criativo, no entanto não consigo nomear o que nem sei o que é, ufa!… risadas dos dois lados… – Entende? Ela perguntou enlaçada no colo dele, baseado rolando para lá e para cá…

– Acho que sim. Quando estou escrevendo ou desenhando, fico procurando novas maneiras de se fazer um diálogo, e vejo o quão é difícil, manter um bom papo e ser um ser interessante em toda essa carne… ele passa a mão sobre seus corpos… o baseado cai de uma mão, sem se importar de quem, faz um pequeno furo no tapete onde agora, dois corpos são um, energia pura e densa enevoando o ar do ambiente inteiro…

“Aqui!”

…dessa vez nossos intrépidos personagens, essas duas pessoas aventureiras da vida, se encontravam em um local mais profundo, com mais verdes e flores, troncos tão altos e mais altos que edifícios, e mesmo em alguns pontos onde o céu não era visível, a luz, as cores e o sol entravam desenhando o dia… ela estava com o torso nu, como ele, e os dois usavam calças de moletom de cores diferentes… um baseado, chás de erva doce e camomila, incenso de mirra, e a mata!

“- Quer dizer que é isso que é o “viver”?! Ela perguntava curiosa sobre as sensações que vinham em seu corpo… e tudo parecia mais brilhante, mais conectado, como se ondas de respirações descolassem juntas em tons distintos porém análogos, e eram visíveis a olhos nus, e seus troncos nus, ele estava dentro dela e sentia isso, e ela estava envolta nele, e sentia isso… os dois rolavam pela grama um pouco molhada pelo orvalho matinal, como um só corpo, um círculo, uma conexão do Yin e Yang, dois unos, complementares e individuais…

muitos orgasmos vinham dançando juntos de espasmos musculares, fluídos digeríveis com sabores de pele, sexo e algumas vezes, amor… “- É isso!…” os dois corpos estavam largados sobre todo aquele verde e seus braços e pernas brincavam entre si, ela e ele se permitindo sentir em seus corpos nus toda a maciez e a umidade do ar… ela completou: – Estou muito feliz, me sinto bem! Ela enlaçou os braços envolta do pescoço dele, dedos brincando com os pelinhos da nuca… ele arrepiou o corpo inteiro… “- Eu também!”… ele respondeu a ela com um carinho no rosto…

sem se importar com o que quer que faça em qualquer tempo e momento, na existência do dia, esses dias rotineiros, estabelecidos pela sociedade dita como civilizada e me parece, não sei não, mas me parece que nossos queridíssimos amigos aí perceberam que o tempo, muitas risadas, para quem está vivendo, o tempo não existe!…

“Títulos da Caminhada…”

Estavam aquelas duas pessoas com suas vestimentas coloridas e aconchegantes sentados em um tapete grosso e felpudo, também colorido, próximos de uma fogueira bailante naquele início de manhã de uma terça-feira… qualquer… para aqueles que creem que o tempo é isso, ou para isso apenas, os delírios falantes deles deixavam o momento mais alegre entre café e chá, pães, um baseado enrolado e o toque dos narizes geladinhos…

Conversavam vagamente, como pensadores de um universo fictício, sobre os tempos de relacionamentos diferentes, em tantas situações possíveis, que sim, era possível estarem agora vivendo cada um em seu próprio universo paralelo e que todas as cordas de outros universos Paralelos, quando a vibração compõem tanta energia, que em algum estágio ocorre uma explosão e o som espalha todos os elementos que compõem o que esses dois personagens conhecem como vida… e há esse contato!…

– Pois a minha incompreensão vem dessa dicotomia que são as escolhas de nossas vidas!… ela tragava, gesticulava, mexia nos cabelos presos em “um rabo de cavalo”, e ao olhar para fora da janela, pessoas transitavam a pé e em seus carros, cada uma funcionando como uma grande máquina, é isso!… ela exclamou… – Somos células de um ser maior acreditando sermos seres únicos e… ela parou de falar um pouco com a expressão curiosa e a mão sob o queixo… – Nós somos únicos… isso é a tal dicotomia!… ela finalizou soltando uma bela tragada da Santa Planta… muitas risadas depois…

– Uma pessoa que julga a outra pelo que ela faz ou apenas pelo seu trabalho, é um julgamento muito raso e de pouco valor… ele segurou a mão dela fazendo alguns movimentos de carinho com os dedos, depois levou o baseado a boca e continuou: – A pessoa tem doutorado e milhões de qualificações acadêmicas, daí para em um mecânico por que o motor estourou e não sabe o que fazer ou como arrumar… seus títulos não valem muito agora em frente a um ex-presidiário que estudou até a oitava série dos anos 1980, e que trabalha honestamente há alguns bons anos com a montagem e desmontagem de carros e suas peças… ele sabe o que faz sabe qual parafuso apertar, qual afrouxar um pouco, o que encaixa em quem… é mais um aprendizado, estamos aqui para isso… 😆

Passando a Bola…

aquele “casal” que não é bem um casal, são mais amigos com benefícios entre si que qualquer outra coisa, estavam sentados em uma esteira de praia de frente ao mar naquele bate-papo gostoso e muitas vezes, profundo, onde haviam mais perguntas que respostas…

ele comentava com ela como a vida era feita por aclives e declives, curvas fortes e buracos que pareciam panelas, que quase não dava para desviá-los… ela correspondia e comentava como dependendo das escolhas de vida, tudo nos parece bem enfadonho, um tanto chato e aquele sentimento de “somos gado” indo para o matadouro; a morte é certa, o caminho que podemos escolher podem ser mais leves, ela completou…

– É claro que haverão percalços, e um monte de guru na Internet responde que isso é para seu aprendizado, sua evolução… ela disse fazendo um carinho na barba dele…

– Sei bem disso, a preguiça na real de levantar da cama é essa… muitas risadas dos dois lados… – Esse papo de aprender no sofrimento não cola mais… ele continuou agora fazendo um remelexo nos cabelos dela… – Aprendemos nas alegrias, crescemos pelos bons exemplos e evoluímos no caminho do bem, então, chuta a pedra de lado e manda ver na positividade!… deu um trago naquele baseado gostoso e passou a bola para ela…

Delírio!

eco…eco…ecooo…ecooooo… é como se suas histórias estivessem sido lidas há muito tempo atrás, e esse mesmo tempo era o tempo em que ele não escrevia e portanto… havia esse… eco… vocês conseguem ouvir?!

… _ Vocês conseguem me ouvir?! ele perguntou para o nada, um vazio imenso que tomava conta de sua alma e agasalhava seus medos… _ Será que estou sozinho?! Ouço barulhos, pequenos barulhos, que imagino serem alguns animais, insetos talvez… e; … _ Eu não ouço vozes humanas. Nenhuma. Nenhuminha… Nem mesmo aquelas que viviam em minha cabeça! ele pausou mirando um horizonte longínquo e enevoado… já não enxergava tão bem e havia tempos quebrara a armação do óculos sentando em cima numa daquelas bebedeiras imaginárias…

tinha parado de desenhar caras e rostos e personagens engraçados ou esquisitos que pediam personalidades inquietantes em taças que vinham flambadas de fogo e amor… mesmo que não fosse um amor verdadeiro, àquele que é comprado, ainda assim, se vale para acalentar um coração solitário, e esse era o caso daquele nosso amigo, sujeito introspectivo e ao mesmo tempo, quando com uma outra pessoa, um tanto comunicativo…

tanto andou por lugares inóspitos quanto pelos mais floridos e cheirosos espaços que traziam muitas vezes as brisas do mar… nesse mesmo dia, ficou paralisado por não saber se aquela sombra sobre a névoa era uma pessoa real, ou apenas mais algum truque de sua fértil imaginação… _ Ei, você! ele tentou chamar a atenção dela, porém a sombra não se movia… _ Você! Você aí! Você é real?!… a névoa deslizava fina pelo ambiente e fazia truques com as nossas mentes… ele a viu mexendo a cabeça e respondendo: _ Sim, ainda estou aqui…

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