O Mito…

Foi aos treze anos que ela passou pela sua primeira transformação completa. Até então podia ou não ter aquela membrana que a ajudava muito a nadar entre seus dedos, ou ter guelras que se fechavam quando emergia e podia respirar como um humano normal pelo nariz. Porém quando colocou os pés no chão pela primeira vez, pode sentir a textura da areia na praia e sorriu histérica pela sensação de cócegas que lhe causava. Suas duas irmãs mais velhas estavam sentadas em algumas pedras olhando e compartindo da felicidade da pequena sereia que agora podia ser também humana.

“O que você acha, nossa menina nos dá orgulho!” Uma das irmãs mais velha de Serena estava admirada pela desenvoltura com que a jovem, para a idade das sereias realmente muito jovem, usava seu “novo” corpo. A outra irmã, a do meio, acertou o corpo sobre a pedra… “Nunca me acostumei com elas…” Dusva olhava para suas próprias pernas… “é como se não fossem para mim, sempre me dei muito bem dentro da água…” Nalhi olhou para Serena de novo… “Nessa idade, apontando para a menina, eu nem imaginava sair da água. Ela vai muito rápido para mim.” Dusva coçou o nariz… “O conselho está conversando sobre isso agora.” Nalhi pulou da pedra com agilidade e olhou feroz para cima mostrando as presas. Em contraste com o negrume de seus cabeços grandes e crespos, a brancura de seus dentes brilhou… “Não acredito que fez isso, você contou para eles?” Dusva envergonhada virou o rosto em discordância. “Iriam descobrir e seria pior para ela.” A outra respondeu rosnando… “Isso era ela quem deveria decidir!” Retrucou em desaprovação. “E o que irão fazer?” As duas estavam agora apreensivas, mas a mais velha era também a mais radical. Havia vivido quase um terço dos mil anos que as lendas contavam sobre sereias e viveu muitas histórias diferentes em que os humanos não eram os mocinhos. Entretanto ela acabou por descobrir o “dom” dos humanos, de como usar as ervas sagradas, e como fazer isso em favor de sua espécie. Então nos dias de hoje, quando transformada, possuía poderes de uma bruxa, e combinado ao que ela era, tornava-se muito poderosa, um poder que como sempre corrompe o saber. E sua espécie seria consumida por sua fúria.

“Vamos matar alguns deles, vamos mostrar a nova dinastia ao senhor Netuno, vamos mostrar para os seres do oceano e da terra quem é quem nessa história milenar.” Aqui vem um breve parênteses para comentar que existem espécies diferentes de sereias. O ser que era considerado mitológico possui características comuns, porém existem machos que são como “sereios” e machos-peixe. Há também a fêmea-peixe. E para procriar sua espécie, somente os machos da espécie humana, em uma descoberta incomum através de um amor proibido, Dusva experimentou o sexo humano, e que assim as sereias poderiam se reproduzir como “sereias”, isto é, metade humano, metade peixe, e com isso “viver” sua espécie por mais tempo. “Nem mesmo o tão poderoso, considerado pelos próprios humanos como o deus dos mares, Netuno soube disso, tanto sua busca incansável por experiências que não envolviam os humanos, e cada vez nasciam mais sereias-monstro, com deformações pelo corpo, com aspectos de mutações asquerosas.” Dusva tinha um brilho maligno nos olhos. Ela também desceu da pedra e começou a articular um plano com sua irmã. “Seremos as rainhas, nós faremos a espécie perfeita das sereias, pois nós somos as mais lindas e assim continuaremos!” Sua arrogância poderia ser seu limite, porém sua irmã Delhi gostou da ideia, mais pelo fato de poder cruzar com os machos humanos. Ela havia experimentado aquilo algumas poucas vezes, e tinha se deliciado com o toque e o calor do corpo dele, e depois com o sabor. Passou a língua sobre os caninos, lembrando depois de devorá-lo, “tão agridoce!”

Com a terceira irmã sendo muito mais forte do que elas mesmo estavam imaginando, pela velocidade e destreza que a menina estava se transformando em uma jovem, elas sabiam que logo Serena seria adulta, e uma daquelas de personalidade.

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