E teve essa história sobre tatuagens e como você se deixa cortar, se machucar por acreditar que aquele desenho ficará mais bonito em sua pele que no papel. Bem, vamos lá, sou uma pessoa que sente muita dor, e não curto para nada. Mesmo assim sempre admirei pessoas tatuadas e suas peles coloridas pelos mais diferentes desenhos. E tive uma intuição, ou sei lá, uma predisposição de perceber que a tatuagem não necessariamente tinha que ser com desenhos de linhas grossas e cores chapadas, o famoso estilo “Old School”. Numa boa e com todo respeito, só o nome em si já me incomoda pra caramba, fora o fato de que em sua maioria os desenhos parecem um tanto “infantis” no sentido de mal feitos mesmo, mal tratados. Não, nunca curti o estilo old, e me apreciava muito por tribais e afins. No entanto foi numa dessas pesquisas imagéticas que fazemos pela abençoada internet, estava lá, em uma técnica que eu amo fazer em papel ou telas, a aquarela. Uma tatuagem aquarelada, era o que eu iria mandar pra fechar meu braço. Acendi aquela ponta, deixei a inspiração chegar e criei um peixe com flores, sem nenhuma linha preta, e com algumas poucas manchas escuras pra dar o contraste e o desenho ficar entendível.
Levei a essa tatuadora em uma cidadezinha no interior do estado de São Paulo, e dei o crédito a ela, imaginando que seria uma artista a preencher minha pele. Infelizmente não foi por ai que rolou, quando mostrei o desenho ela ficou brava, dizendo que aquilo não era uma tatuagem, que era uma aquarela e portanto não poderia fazer. O estilo old school não é só no traço, é no pensamento também. Como assim um artista se recusa o desafio de ir além, de ultrapassar seus limites e criar algo novo, não conseguia entender. Menos ainda quando ela me pediu para pegar o álbum em cima da mesinha de centro que havia no estúdio para eu escolher uma tatuagem que lembrasse minha ideia, e que ela, super criativa iria pintar com cores diferentes, pois assim era uma tatuadora a anos, e tinha essa experiência. Puxa, imagina, quando você é um artista você quer acreditar né, você quer acreditar que outro artista pode ser capaz dentro de uma técnica que não domina de fazer algo bacana para poder crescer e se superar como profissional do que se propôs a ser.
Pura ilusão, hoje tenho uma tatuagem que não curto nem um pouco, mas que me falta uma coragem danada para riscar em cima, pois sei que além da dor que terei que sentir, para que a tinta ultrapasse a que já está em meu braço, terei que “acertar” a ideia para fechar esse braço e ele ficar digamos, apresentável. Pensei em um estilo bem sujo e um tanto agressivo conhecido como “Trash Polka”. Por misturar elementos de design, letras, formas, acredito que poderia “salvar” meu braço. Enfim, depois disso tive muitas outras experiências com a tattoo, inclusive como um artista, riscando as peles alheias que felizes me pagavam para serem cortadas e raspadas, e ter desenhos lindos e modernos, por que fui aprender os estilos que eu mais gostava de fazer já como artista de telas e papel.
Bom, vou ficar por aqui agora, tenho um desenho de uma tatuagem para fazer, uma encomenda de uma amiga. Não faço mais tatuagens, aposentei minha máquina, no entanto continuo vendendo desenhos para amigos e tatuadores que tenham esse pensamento mais além, de extrapolar suas técnicas e qualidades para criar uma tatuagem bacana de verdade… Risquei! =)