O Imperador

A dualidade ou até mesmo a diversidade de qualidades e defeitos que esse personagem compunha me confundiram a mente. Olhava-o sem entender direito, aquela figura imponente com uma longa barba. Começava por aí, não conseguia definir se era ruivo ou loiro. Era Netuno. Não era humano, nem era peixe. O que ele era? Um Deus, alguns disseram. Outros creram, sua fama ficou enorme, e a soberba veio junto. Do seu jeito imperativo, do seu jeito apenas. Porém quando as coisas iam dentro de suas medidas, era a pessoa mais doce, companheira, atenciosa e justa que havia. Todos tinham suas oportunidades, ele às vezes até criava coisas para um estranho ter seu valor em suas terras, ou melhor nesse caso, no seu fundo de oceano.

Poucas vezes precisou interagir com os seres da terra. Ele não gostava nem um pouco de usar a forma humana, e dentro dos mares tinha a segurança de todo o seu poder, controlando os aspectos físicos e os medos psicológicos da espécie que ele considerava não evoluída no princípio primordial de qualquer espécie, não destrua seu ambiente. No entanto desde que sua filha, a princesa, teve um pesadelo com um ser humano, um sujeito que ele caracterizou como estranho, com aqueles cabelos desgrenhados e um sorriso bobo como de um cachorro lambão, Netuno estava agora em alerta com o desenrolar de uma história que era uma das lendas entre os 22.

“Um sujeito sem rumo, começa a ganhar confiança e descobre que seu rumo é somente ir… Encontra muitos amores, e entende os amores de vários relacionamentos. Porém quando conhece a princesa dos oceanos, a filha de um Deus, ele se apaixona perdidamente… O amor, sempre ele…” e a lenda continua… Esse jovem andarilho está sempre aprontando alguma confusão, mas dessa vez ele pode mexer com o destino da humanidade.

***

Netuno olhava pensativo para um dos muitos azuis do oceano. Qual é esse azul, ou melhor, quanto são, os azuis? Sua filha nadava com um grupo de golfinhos, e o rei dos mares sorriu… (?)

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Quando, onde e em que pele…

elalinda

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Uma História de Tatuagem

O quanto íntimo podemos ser, superando barreiras das fronteiras de línguas e culturas, de países ditos assim. Nessas histórias loucas sobre tatuagens, pessoas que gostam de cortar sua pele e querem marcar algo que para elas signifique alguma coisa mais, é uma simbologia particular. Eram por volta das 2 horas da madrugada quando ele trabalhava de recepcionista num hostel da praia. As pessoas o conheciam por seus desenhos que ele fazia sem pudores na frente delas. Numa dessas a tatuagem surgiu, era um meio de expor mais ainda sua arte e ainda fazer um dinheiro extra. Na época ele pediu para a sua chefe que pudesse de vez em quando fazer uma ou outra tatuagem, e isso para o estabelecimento era legal, pois tinham um motivo a mais para atrair os olhares curiosos dos hóspedes.

Essa garota da argentina fazia parte de uma turma que se conhecera ali mesmo, naquela pequena cidade litorânea. Eram em sua maioria da argentina, dois casais, essa garota de 21 anos e solteira, esse outro cara que estava estudando arquitetura e devia ter seus 20 e poucos também. Uma vez acamparam todos juntos em uma praia selvagem, de uma natureza linda e bruta. Fizeram um guisado de frango, comeram jaca e se deliciaram por ali, sentados em suas toalhas vendo o mar agitado. Com a amizade crescendo durante aqueles dias, ele acabou encantando essa garota com seus desenhos, e ela resolveu ligar para ele perguntando se ele teria vontade de rabiscar seu braço com motivos florais. Ela já tinha feito tatuagens antes, mas aquele momento marcaria uma história que duraria um ano, sempre pelo litoral, sempre criando arte em seu corpo. Pensado em conjunto, fumando um baseado e papéis e lápis, desenharam de madrugada as novas ideias, que iriam completar a mandala que foi feita no ombro, incorporando o trevo que ela já tinha. As linhas leves e finas, traços precisos e detalhes que ao olhar de longe veria um desenho muito bonito e intenso.

A primeira vez demoraram quase 4 horas de trabalho. A segunda vez mais ainda, passaram uma madrugada juntos, em um grande hostel com piscina e vista para a baia de Búzios. Depois se encontraram rapidamente em Arraial do Cabo, e nesse dia a máquina não queria trabalhar, demoraram mais para deixar o equipamento pronto do que para tatuar em si. Em seguida, finalizaram com o amor que ela sentia por gatos, um traço simples, manchas coloridas, e a composição ficou inteira. Ondas, folhas, flores, paisagens de natureza, e seu gato. Terminaram na mesma cidade em que começaram, parecia uma coisa de magia, algo que foi ganhando forma e vida própria. A amizade fortaleceu junto com a confiança, e durante os breves encontros em cidades diferentes, quando conseguiam casar seu tempo e sua vontade, foi assim, uma história rica de uma tatuagem.

A mensagem chegou também em uma noite, quando ele já havia dado por encerrado sua carreira artística com a tatuagem. Porém quando você faz um trabalho que gosta, e o resultado é melhor do que acredita, isso significa que o universo vai compensar com retornos. A estrada, ela vai e volta, ela segue, e ela faz os loucos se encontrarem. Tem mais encomendas de tatuagens vindo por ai, ela agora está na Colômbia, no entanto já está marcado, uma vez se encontrando, seja onde for, mais um ano quem sabe, e mais um lindo desenho para a pele.

Mais uma história de amor

elasempreela

Quando saiu de casa não sabia e muito menos esperava o que ia encontrar. Estava vivendo aleatoriedade da vida, escolhendo quando podia, sempre o mais simples possível. Porém quando se trata de amor, se trata de entrega. Quantas vezes forem precisas, quantas vezes você vai sentir com intensidades diferentes, para quantas pessoas essa transmissão de energia pura, e quantas, realmente para quantas dessas pessoas você vai poder dizer, crendo no seu próprio sentimento.

Somos títulos e rótulos ou somos a prática?!

Falando sobre a experiência. Agir com emoção. Quando se pensa nesse ser racional, o vínculo inicial começa no rótulo. Dependendo da área (em relação a trabalho) são os títulos. E gostam tanto disso que nomeiam quem não está no meio de “hippie”.

Já fizeram “filtro do sonho”? Amarrar os barbantes coloridos é uma verdadeira aula de matemática. Empírica. Uma palavra linda que significa certo nível de imersão. No meu caso, artístico e antropológico. Nomes. Como comunicar sem nomear? Por que o título (seja ele acadêmico também) é tão importante para uma peça encaixada em um tipo de sistema (não questiono ou melhor, não “ranqueando” melhor ou pior), porém aquele que domina, incluindo os que se imaginam livres.

Experimentar tantas artes diferentes, mesclar as ideias em uma plataforma que existe em todos os mais variados meios de expressão/comunicação. Do que vocês tem medo? Como podem refutar um processo artístico empírico (adoro!). Vai contra o que entendo pelos senhores do saber. Professores são pessoas que vivem em um mecanismo único e pessoal. Cada um tem seu valor pessoal. Seu próprio corpo e sentido. Nesse caso tanto o que nos faz rir, quanto os arrepios dos pelos nos braços. São pesquisadores de ideias. Velhas, as de hoje e as que virão. Alguém precisa de quanto tempo para entender que não importa “quem”, ou “onde”, mas o que ele faz e se isso é bom para si ou para o próximo, uma comunidade total.

Dois caras eram plantadores. Um colhia tomates e o outro beterrabas. Se achassem alguém que plantasse cebolas, teriam uma bela salada. Tomates não se importam em ser outra coisa. Aliás não sabem, humildemente creio, que são o que são. Quem somos nós?

Pegando Fogo

Sei lá se isso é de propósito ou não, mas quando uma mulher como aquela chega nos lugares, ela com certeza sabe que todos os olhares vão se voltar para si. Ela tinha duas tatuagens em seus ombros e o cabelo comprido escorria por eles, deixando os desenhos confusos em sua pele. O batom vermelho estava borrado como se houvesse beijado alguém de forma selvagem. Sentou-se no banco de frente para a máquina de cervejas, e apoiando o cotovelo sobre o balcão fez um sinal com a mão para o barman. Ele percebeu que ela havia pego um cigarro e posto na boca. Veio esfregando a mão em uma toalha suja e molhada. Abaixou a cabeça e disse timidamente “não pode fumar aqui senhora.” Ela fez um biquinho com a boca, apontando o cigarro para o sujeito. Ele pegou um isqueiro do bolso de seu avental e acendeu. No olhar dela, não havia engano. Hoje teria fogo, de uma forma ou de outra. E pelos vidros embaçados do carro podia-se distinguir a silhueta daquela mulher selvagem cavalgando-o. Os gritos abafados pela fumaça puderam ser ouvidos do bar. As paredes derretiam na visão de seus olhos vermelhos. Ela saiu do carro com elegância, ajeitou o vestido de alças mostrando suas tatuagens e acendeu outro cigarro.

Sem Sentido…

Se fazia algum sentido os dois estarem ali depois de tanto tempo… Nenhum deles sabia, porém isso pouco importava. Contavam seus pequenos dramas, as aventuras que não estabeleceram entre si. Um de cada lado, suas pontes ligando cada lado do rio, e cada rio ficava num lugar diferente. Os sentimentos que eram compartilhados estavam sendo utilizados por outros. Pessoas contando histórias iguais, em que eram personagens diferentes. Ela estava gostando de outro, sofria por outro, alguém que ele não conhecia. Ela o largou sentado em uma mesa à noite, sozinho na cozinha. Conversou discretamente através de mensagens pelo celular e inventou qualquer história para seguir sua vida. Sem ele. Ela havia vivido. E ele foi viajar…

A Imperatriz

Quando aquele jovem maltrapilho atravessou os grandes portões de ouro daquele lugar, estava assustado com a visão das enormes esculturas e pilastras de apoio todas também em ouro. Ao fundo havia um trono, porém ele podia ver claramente os detalhes daquela peça. Era largo, alto e de um tom amarelo alaranjado, brilhante como uma jóia. Sentada nele estava aquela figura que transmitia sabedoria em seu olhar. Ele foi se aproximando de forma tímida. Ela deixou o escudo que segurava de lado, e colocou o cetro sobre o colo. Havia um sorriso lento em seus lábios, e ela abriu os braços para o Louco.

Ele se aconchegou em seus seios fartos e ficou ali, quieto, recebendo carinho e palavras de ternura e compreensão d´A Imperatriz. E apesar de muito vaidosa, sempre cuidando de sua aparência, com muita elegância repreendeu o andarilho. Em seu discernimento aconselhou o garoto a procurar por algo que ele ainda não conseguia entender, a rotina da vida. Ela desceu o jovem de seu colo e levantou o cetro. Na ponta do mesmo havia uma lua cheia e duas outras luas, uma de cada lado oposto fazendo um desenho de um arco. Eram as luas, a minguante e a crescente que giravam ao olhar estupefato do Louco.

Vou te mostrar os caminhos, a Imperatriz disse fazendo uma pose bem altiva. Ela então girou o objeto sobre a cabeça do Louco e uma névoa foi tomando conta do ambiente. Ali ele pode ver todos os outros elementos das cartas, viu o futuro, porém também viu parte do passado. Compreendeu seus passos e sentiu suas escolhas. Tudo girava rápido em nuvens como poeira cósmica, em tons azulados e lilás. Ainda atraído ouviu as cantigas da Imperatriz, visualizou possibilidades múltiplas de vida. Que ele poderia ajudar mais os outros, fugir menos das responsabilidades, e depois ser parte de uma contribuição maior, poderia viajar mais, até mesmo usando isso para esse momento de compartilhar e aprender. Ela terminou falando que ele poderia ser o que quisesse, fazer o que quisesse, desde que fosse bom para si e para o todo, sempre assim.

A Imperatriz despediu-se do Louco colocando o escudo de volta no braço. Arrumou a postura alongada mostrando a saliência na barriga, ela esperava o irmão dele, e ele chorou de alegria pela notícia.

Amar!

É se desnudar por inteiro mesmo, tirar não só a roupa, mas a pele, a casca, as células. Levar ao extremo da intimidade com todas as limitações e os entendimentos para superarem juntos as mesmas. É se permitir para a prática, desmascarar as teorias, comprová-las mil vezes sim, e daí, se é bom por que não repetir…

Nos dar mais chances, mais possibilidades de outras ideias, sem essa bobagem de “melhor” ou “pior”, “bom” ou “mau”. O que é para um pode ser para outro, mas não necessariamente, por que nas probabilidades infinitas de escolhas que temos, tudo pode ser bom para todos!

Permita-se amar quantas vezes achar que é real, sentir e sim, sofrer dor física por isso, por que dói no peito, no músculo, no coração. Porém quando é sincero, verdadeiro, é só alegria, a dor é uma danação de emoções, intenso e profundo, como uma droga, você vicia, e esse talvez seja um dos poucos vícios bons… amar!

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