faltava um minuto para as 16:20hs… um monte de gente naquela pequena igrejinha cantarolava em ritmo descompassado “glória, deus e amém”… e na outra igreja que ficava em frente podia-se ouvir as batidas frenéticas de lésbicas futuristas e sapatonas convictas, todas na onda de Ga31, a artista com a voz feminina do google…
passaram 4 minutos, Elisa acendeu a bituca minúscula que havia encontrado, e até aquele momento não havia se dado o direito de saborear o que há de bom em utilizar a erva santa… ela não sabia o quanto fumar um baseado teria facilitado esses primeiros meses no mundo colapsado por causa dos “homis“…
ela sabia que havia tido sorte de estar em um bairro de classe média alta, ou seja, os machos da espécie em sua maioria estariam trabalhando fora de casa, e mesmo em pandemia total, os boçais gostavam de se achar bons demais para acreditar em tal doença, e acabaram assim… não eram apenas zumbis babando e se batendo por futebol… era real, e eles continuavam tão inúteis como quando estavam vivos, porém, não era nada legal saber que podia ser um petisco para eles…
Elisa pensou em sua próxima mudança… teria que sair daquele apartamento e ir explorar outros… nunca foi corajosa, e nas três vezes que teve que se mudar teve a sorte de achar os lugares bem ajeitados ainda, e com certa reserva de comida e água…
quantas vezes você vai mudar em sua vida… não só de casa… de vida mesmo… entende isso?!… você se deixa sentir o prazer, ou está tão preso nos afazeres que foram estabelecidos pela sociedade de plástico que esqueceu como é… desejar… as únicas duas coisas reais que seu corpo irá gritar contigo é pela comida e pelo descanso… fora isso, são fantasias humanas baseadas em loucuras particulares e coletivas…
Elisa estava louca e vivia em um mundo pandêmico… (quem nunca?!)