Serena pode viver mil anos. Buk está fazendo noventa hoje. Ele é humano, ela é uma… sereia! Ele irá ter sua passagem de vida terrena em breve, e ela irá continuar… sem ele. Ela olha-o com profundo amor, algo impossível de se imaginar para a espécie dela. Humanos são alimento, não machos de nossa espécie. Era a lei. A regra maior. Ela desobedeceu sem pensar. Ele pagou muito por isso, mas era agradecido a ela, aprendeu a amá-la e a respeitar sua natureza. Aprendeu a conviver entre espécies. Ela lhe disse que poderia lhe dar a vida eterna como a dela. Que se passasse a “semente” ele poderia se transformar em um “sereio”. Ele amava-a demais. Em outras circunstâncias talvez tivesse aceitado a oferta. A questão era que ele viveu a maior parte de sua vida, aliás desde os dezesseis anos de idade com o “veneno” dela em seu corpo, controlando-o. Ele nunca teve certeza se suas próprias decisões eram mesmo suas. Sentia sempre muita dor na altura do estômago, e a cicatriz pulsava queimando toda região. Com o tempo, ela o permitiu casar com uma humana, deixou-o procriar e ver seus filhos terem filhos. Agora ele estava satisfeito, disse a ela que não queria mais tempo de vida, que não precisava pois teve uma vida feliz, ao lado da “mulher” que amava, conviveu com uma pequena família feliz e teve muitas aventuras de tirar o fôlego. Ela lhe deu um beijo na testa. Levantou-se da cama com os olhos cerrados e apagou com um sopro a vela no quarto de Buk “Quatro Olhos”. Serena saiu pela porta em direção ao cheiro do oceano. Sentiu um arrepio na pele e entrou lentamente no mar, sem olhar para trás nenhuma vez. Com uma lágrima escorrendo sua face rosada, ela deixou a cauda tomar conta batendo com força e fazendo-a mergulhar com um estouro rápido. Seu pensamento foi… “essa é a última vez que me transformo em humana!”