Ele estava sentado dessa vez em um meio-fio de uma rua qualquer. Com um galho fino na mão brincava de “desenhar” aleatoriamente no chão. Podia sentir um cheiro que vinha de dentro de seu corpo. Era de suas memórias. A cidade estava correndo para variar, e sabe se lá como ele conseguia sempre encontrar tempo para aqueles breves devaneios. Essa curtinha fala do primeiro beijo que ele deu nela, e que o marcou para sua singela vida. Ele sabia que existiam vários tipos de beijos, e dependendo da idade, da maturidade, do lugar, do momento, e lógico, de com quem, o ato em si se tornava algo maior do que poderia realmente mensurar. Ele estava apaixonado por aquele beijo. Não sabia se era por conta de ser com ela. Aliás, ela fazia parte da composição, como notas musicais que vão se encaixando e os dedos vão ritmando uma música que é única, cada vez que a toca, por que ele também não entendia direito, mas sabia que tudo o que fazia era a primeira vez que estava fazendo, mesmo que não parecesse, ou que parecesse que já tinha vivido aquilo de alguma forma com outro alguém. Mas aquele beijo, por conta de ser com quem foi, por conta da vontade recíproca, do instante desejoso dos dois lados, “minha nossa” ele lembrava, e passava a língua sobre o lábio e podia sentir o gosto dela. O cheiro era incrível, benditos feromônios. E o tempo, esse então, pode-se dizer que é seu melhor amigo às vezes. Por que foi pelo tempo que passou, com histórias tão distintas, que jamais, em nenhum tempo ele poderia ter programado a situação conforme ocorreu. Não acreditou que era o dia mais romântico, nem o lugar (ele não queria estar ali), nem as roupas que usavam, ou qualquer detalhe desse tipo. Era ela, ele sabia disso, era ela desejando ele tão intensamente que ele quase não pode acreditar, o quão aquilo lhe parecera planejado. No entanto, quando os lábios dele e dela se encostaram, quando tudo encaixou, as línguas entrelaçaram, as salivas eram uma só, a pegada dos dois lados, em um universo que o fez esquecer tudo. Nada mais importava a não ser aquela sensação, o calor das bocas, o azul do universo, os brilhos dos olhos famintos, a maciez das peles, a força de um encaixe perfeito. E foi assim, único, mágico, rico e por aquele instante, eterno. Entendia o que sentia, o que a música queria dizer, naqueles minutos seguintes, onde os corpos estavam colados, e as bocas combinavam movimentos perfeitos como dançarinos em uma pista. Nunca mais iria esquecer, mesmo sabendo que iria beijar outras bocas, que iria trocar com outras pessoas, é sempre assim né. Se souber dar valor ao infinito e único, ele só lembrava do melhor beijo, por que era a melhor pessoa naquele que foi o melhor tempo singular de sua vida.