Aqueles dois amigos se encontraram na praia, de frente para o mar. Tinham esse aspecto que para alguns pareciam desleixados, mas pouco se importavam, estavam trocando seu tempo juntos, apenas pelo afeto da amizade. Histórias iam e vinham, um caso puxava outro e num dado momento ele soltou essa, que a pior coisa que podiam ter feito eram ter “capitalizado” o amor. Assim agora esse maravilhoso sentimento era um bem consumível, e muita gente podre se enriquecia ante a tristeza alheia de um coração despedaçado. Ele tinha o cabelo cheio e cacheado, e uma barba idem. Era avermelhada, estava queimada pelos dias de sol naquele lugar paradisíaco. O outro colecionava pintas pelo corpo pelo mesmo motivo. Sua barba não era tão cheia e o cabelo era castanho escuro. Os dois apenas de bermudas de praia compartilhavam o baseado e as filosofias para se entenderem nos jogos que a vida lhes apresentava.
Um deles havia se apaixonado por aquela garota inglesa, linda do corpo voluptuoso naquela pele negra e firme. Haviam trocado juras de amor como todas as outras vezes, e como todos os outros personagens, uma coisa bem estúpida de um ser humano, vê o exemplo alheio, porém não consome a ideia, o aspecto importante de saber sair das “armadilhas” do amor… Se tem armadilhas, não é um bom lugar para se estar concordam? No entanto ele sabia e rindo junto de seu amigo contava esse caso, com detalhes entre uma baforada e outra, de como poderia ser caso estivessem ainda juntos.
O outro parou um tempo e fitou o oceano em movimentos constantes. Você chama aquilo de ondas, e sabe que de vez em quando ela vem, ela vai, ela é influenciada pelos ventos, pela lua, por choque de outros mares, por enormes embarcações de marinheiros chucros e tatuados. Pareciam ciclos. Não importava onde você nascera, se era no Brasil ou no estrangeiro, se era alto ou gordo ou da pele vermelha ou do cabelo comprido ou… Todas as pessoas, 8 bilhões mais ou menos, viviam um livro de um roteiro único, fazendo as mesmas escolhas que agora lhes parecia um tanto absurda. Ele lembrou de um filme onde o cara procurava pelas ex-namoradas para tentar se resolver no atual relacionamento, e soube que tinha sido baseado em uma história vivida por um sujeito real, daquele mundo.
Então o sujeito castanho contou ao ruivo que teve uma namorada que havia lhe marcado por diversas situações, tanto boas quanto no mínimo estranhas. Quando casal os dois aprontaram muito, se colocaram em risco para terem prazer mútuo, coisas que os adolescentes fazem escondidos nos dias de hoje nas escadarias desses grandes prédios de condomínios de classe média. “E você tem vontade de compartilhar o tempo com alguém? Digo, hoje em dia?” O ruivo perguntou e o outro cara pensou nisso, teve ao todo cinco namoradas durante sua vida, como o camarada do filme, digamos, que você podia entender por um relacionamento maior, onde se conhece a família, se envolve emocionalmente e sexualmente, fazem planos juntos, mesmo sendo novos, mesmo sendo velhos. E aquela garota tinha mais coisas boas na sua história, lembrava dela até com certo carinho, e gostava das atitudes, da vontade dela, do seu jeito mesmo. Porém os mistérios do universo, por que sua vida anda de uma forma um tanto estranha, você acha que pode ter sido algo ruim, um pensamento, uma energia, alguém tem tanto poder assim para desviar o seu propósito e o de outros só pelos ciúmes, ou por mágoa. Seja lá como for, ele não acreditava nisso, havia seguido sua vida e por isso havia tido tantos relacionamentos “sérios” que podiam ter dado em casamentos longos, filhos e filhas com idade em escadinha, jantares de natais com as famílias, coisas assim.
“Ainda bem que não aconteceu…” Ele disse sorrindo. Como em uma só vida, você me diz que vai amar uma só vez, aliás, esse amor comprado e vendido como você citou, ele não me serve, eu quero aquele que me faça descabelar em todos os sentidos, vívido e intenso, recíproco e alucinado, azul e brilhante!” Caíram na gargalhada, não havia regras, eles sabiam disso, viviam seu tempo livre, tentando achar as fórmulas ideias para os momentos que estariam amando novamente alguém, aquela pessoa que faz você parar na rua para lhes comprar uma lembrança singela, com quem você imagina viver tantas aventuras infinitas, que debaixo daquela tempestade de raios te abre um sorriso largo e honesto de gostar de estar com você, não importa como…