Essa é mais uma daquelas histórias de amor de verão, dessas que duram poucos dias, nesse caso não chegaram nem a quinze. Talvez pela quietude que ele carregava em relação ao convívio com outra pessoa. Porém o aprendizado que ele obteve vale cada linha desse conto, e começou quando uma mulher da Argentina resolveu fazer um mochilão passando pelo Brasil. E lá estava ele, sentado atrás do computador anotando os dados dela, pedindo-a educadamente que preenchesse a ficha de hóspede e explicando os pormenores da hospedagem. Num primeiro momento não houve uma troca de olhares ou algum movimento que ele percebesse interesse. Simplesmente realizou seu trabalho e continuou assim durante os primeiros dias de estadia dela. Porém aquela hospedaria também era sua casa, ele juntamente com outro amigo que também ali trabalhava e morava, e cozinhavam de vez em quando, compartilhavam um ármario e alguns momentos do dia em que seus horários batiam livres.
Pela manhã na troca de turno, seu amigo o acordava e eles tomavam uma xícara de café até o café da manhã dos hóspedes estar pronto. Então desciam para o salão onde ficava a mesa com pães, manteiga, geléias, café, suco de laranja e leite. As pessoas se juntavam pois nessa hospedaria o sossego era tão grande, que clientes e funcionários faziam uma amizade rapidamente, não havia muito tempo a perder, pois esses mesmos clientes ficavam no máximo uma semana e seguiam estrada. E ele continuaria ali sem saber quando seria o dia em que iria pegar estrada também. Então esse ritmo ditou essa aventura amorosa e em uma manhã ela estava sentada de frente para ele, tinha um livro nas mãos e tomava seu café de forma tranquila. Ele soube que ela era escritora e professora de Yoga e ele, numa vontade de experimentar coisas diferentes, de se permitir mais, e claro, cuidar de si, se entregou a ela num bom bate-papo matinal. Ela soube da história dele com sua ex, e o por que ele estava ali naquela jornada, pelo menos por enquanto. Ele soube dela também suas histórias, que ela havia sido casada e o término havia sido um desastre que resultou numa força grande, ela decidiu fazer essa viagem para se encontrar, e “terminar” de vez em sua vida aquele que teria sido seu grande amor.
Um desses dias seu amigo fez uma pergunta, aquela que nos deixa pensativo, e se você ficasse com ela? E lógico, ele rindo sem graça disse que não, não havia possibilidades, aquilo era devaneio de seu amigo, ela era uma pessoa bacana, gentil, e estavam ali todos criando uma amizade, portanto era natural que houvesse já algum carinho rolando. Tampar o sol com a peneira, foi o que o amigo disso, e eles riram fumando aquele baseado vespertino. Os dias passando e pessoas passando e ela não foi embora. Ela ficou uma semana e nesse tempo com muita lucidez, ela deixava sua presença na mente dele, hora dando um cheiro em seu ombro como no dia em que estava cozinhando e ela chegou por trás. Toques sutis, como o beijo que ela lhe “roubou” quando criou uma dessas mentirinhas que não afetam a rotação do planeta, não causam nenhum tsunami, a não ser de desejos. Ela apareceu na sala de recepção pedindo lençóis novos, as duas da matina! E quando ele sem entender direito o que estava rolando lhe entregou tudo junto com um cobertor, ela lhe lascou um beijo molhado. Dia seguinte, numa praia paradisíaca, os amigos numa turma de cinco estavam se divertindo e nadando e ele sabia que hora ou outra teriam que conversar. Ela não entendia por que ele estava tão arredio, não entendia por que não podiam curtir aquele momento juntos. Dentro do mar cristalino, trocaram mais beijos e seus corpos se tocaram de forma que ele não pode controlar a ereção. Ele recuou. Ela se mostrou lasciva. E sabe se lá quais forças eram aquelas, eles não fizeram mais nada, ele concentrado conversou com ela, “só nós dois, vamos sair só nós dois.”
E assim foi, no dia seguinte pela manhã, após o café e de mãos dadas como namoradinhos de veraneio, foram para a rodoviária procurar um passeio em um lugar diferente e souberam de uma cachoeira que parecia mais longe e que nenhum dos dois ainda não conhecia. Acho que era Taquari, ou algo assim o nome do lugar. Pegaram o ônibus e o motorista lhes deixou num ponto onde o rio de forma preguiçosa molhava enormes pedras lisas. Atravessaram aquele trecho inicial ganhando uma trilha larga após conversar com alguns locais que lhes indicaram onde poderiam chegar nos poços daquele rio, onde poderiam nadar e curtir a natureza. Conversavam vez ou outra, ela não falava português, ele não falava espanhol, mas conseguiam se entender bem, apesar da introspecção dele diante dela, de não saber o que falar, e nem mesmo como. Ela mais decidida só ditava o ritmo do que iria acontecer ali, quando chegaram a um pequeno platô, onde a água corria fazendo mini cachoeiras, havia peixes, havia crustáceos de água doce, havia mini sanguessugas. Enrolaram um baseado e fumaram trocando alguma ideia quando ela lhe perguntou o por que ele tinha tanto medo, por que não se entregar aquela vontade. Ele não sabia responder, tentava esquivar dizendo que queria ser um sujeito legal e ela então com um sorriso lindo, olhos claros brilhantes emoldurados por cílios enormes, lhe fez uma última pergunta, “por que não podemos ser felizes?” Isso mexe com você sabe. Alguém que você nunca viu, e que provavelmente nunca mais vai ver, te faz uma pergunta dessas, é como um level up na vida, primeiro por ser um soco forte na cara da verdade, e segundo, bem, só nós nos impedimos de fazermos algo para nós mesmos, de vivermos o que queremos de um jeito bacana, algo positivo, que vai nos fazer bem com certeza, e aos outros. No caso deles dois, ele com um sorriso sem graça pois não sabia a resposta para tal pergunta, recebeu dela esse presente. “Não importa o que vai ser amanhã, nem se vai ser alguma coisa, mas sei que agora quero ficar com você, transar com você, curtir com você, pois vou embora daqui alguns dias, e não tenho motivo para não querer ser feliz com você pelo tempo que tenho aqui contigo…” Ele a beijou lento, demorado, molhado, línguas, afagos, corpos colados e o desejo por ela despertado. Foi uma transa forte mais pelo lugar paradisíaco em que se encontravam, pois não havia conforto para fazerem tudo o que talvez tivessem vontade. Mesmo assim, após um delicioso sexo oral, escondidos por entre pedras e com a água rolando em seus corpos, ele a penetrou e ali ficaram durante um bom tempo até atingirem o orgasmo juntos. Isso para ele foi mágico, já que era raro acontecer, mesmo quando teve um relacionamento estável e longo, sua ex só chegava ao gozo sozinha.
Ela acendeu um cigarro de tabaco enquanto ele enrolava outro baseado. Ela leu seu livro, ele ficou brincando com os peixinhos. Foram embora tarde, o ônibus parou na rodoviária com o céu já escurecendo e decidiram que iam ter esse “namoro” até o dia em que ela teria que pegar estrada de novo…