Era num daqueles predinhos com tijolos vermelhos e escada de azulejo na entrada, de 3 ou 4 andares não me lembro direito, nesses bairros tradicionais do Soho de NY, porém ocorreu essa história entre os mais diversos casais mundo afora e suas particularidades. E eu estava morando nesse lugar, no primeiro andar, e meus vizinhos de porta eram um casal de idosos. Ele era clássico, de boina puída, colete de tricô com losangos em tons marrons, e uma calça dois números maior seguras por um suspensório com detalhes em vermelho. Usava um óculos redondo em cima do nariz também redondo. Ela já tinha mais elegância. Era mais alta que ele, usava sempre vestidos delicados e rodados como dos anos 50. Um coque prendia os cabelos brancos e uma leve maquiagem acentuava uma beleza sublime. Faziam amor constantemente, diziam, ela com mais desenvoltura contara uma vez que comprara uns acessórios e a cena que descreveu foi mais ou menos o seguinte. O senhor gostava de apanhar de vez em quando, ela comprou um cinto, uma palmatória e uma algema. E bateu nele algumas vezes, nada demais como comentou com um sorriso simpático. Tapas de amor não doem, e caímos na risada.
Nessa época eu trabalhava como designer em uma agência, portanto minha breve convivência com o casal senil se resumia as manhãs em que recebíamos o jornal na porta, e portanto às vezes me convidavam para tomar um café da manhã. Quando percebi, eu estava atrasado entretido naquele bate papo matinal cheio de “indecências” daquele casal que diziam se amar a longos 40 anos. Isso logo na primeira hora do dia. Segui meu caminho e ao chegar havia uma ligação de um cliente no Japão. Papo vai, papo vem, não demorou muito e imaginei se era eu um bom ouvinte e por que as pessoas me confidenciavam tantas matérias sobre suas vidas sexuais. Esse sujeito era jovem, uns 25 anos no máximo, fazia academia, corria e gostava de cultuar o corpo. Trabalhava num escritório de advocacia e gostava de sua aparência, preocupado sempre com suas roupas e seu cabelo. Ele conheceu Mara Yoko, uma mestiça brasileira, nascida no interior paulista e que foi trabalhar em uma fábrica de carros, através de seus tios que possuíam carreira similar. A mulher trabalhava dois períodos, um na fábrica, e outro em casa, criando artesanato de barbantes para os orientais conhecerem um pouco de cultura brasileira com os trançados, choches, etc. Ele encontrou com um outro amigo italiano que dividia o espaço minúsculo daquele apartamento. Esse sujeito já tinha cara mais de intelectual, e era bem magro com um caroço ovalado como barriga. Os três se cumprimentaram com beijos e abraços, e após um jantar tranquilo com muita conversa, ela saiu para um banho. Na sequência o italiano adentrou o banheiro e eles começaram a se divertir. Com muito sabonete passeando desajeitadamente pelos corpos e muitos sons fortes em ritmo acentuado. O cara musculoso admirava a cena, acariciando seu membro já enrijecido. O outro sujeito vendo aquilo se empolgou e daí por diante prefiro não descrever o que ele me contou ao telefone. Eu sabia que ficaria excitado, mas preferi me conter já que estava no ambiente de trabalho. O detalhe empolgante fica por conta do amor entre os três. Compartilhavam amizade, prazeres e seus corpos, sem uma ordem definida, sem ciúmes ou posse, era um sexo de amor livre e sem gêneros. A mestiça, o playboy e o italiano se definiam como um “casal” que para alguns poderia ser incomum, no entanto entre eles, após os ajustes das convivências, eram só alegria.
Ao cair da tarde fui para casa com aquela história na cabeça. Eu continuava solteiro e naquele momento seria complicado eu arrumar um grande amor para relatar aqui. De qualquer forma a história não termina assim, após entrar em meu escritório, liguei o computador e procurei por sites de sexo virtual. Existem tantos deles e tantos tipos para tantos gostos diferentes, que a simples busca se tornava uma verdadeira aventura de como caçar propriamente o que se está interessado em achar, e nessa eu acabei reencontrando uma antiga colega de classe numa dessas salas de conversação, e que hoje morava na Austrália fazendo trabalhos voluntários com os animais selvagens. Assuntos compartilhados e chegamos após 30 minutos no que geralmente as pessoas conversam e conversam, mas insistem em dizer que não, ou ridiculamente riem disso, ao se confessarem. Já essa mulher estava casada com um homem que literalmente era o dobro de seu tamanho. Ele estudou no mesmo colégio que a gente, mas era de uma série acima. Um sujeito negro e muito bonito, com o corpo definido e os lábios enormes. A curiosidade que se tornou motivo de algumas brincadeiras por parte dos amigos mais íntimos, era que o pau do indivíduo era do tamanho do antebraço dela. E havia uma foto nas redes sociais para não me deixar mentir. Ela estava com um sorriso gigante no rosto, colocava seu braço ao lado daquela coisa enorme e que me aparentava meia bomba. Imagina duro, eu fiquei em estado de choque. Como aquela garota miudinha, de 1,50m aguentava um homem daquele tamanho? Junto com “se deus existe?” e “para que serve a vida?”, eram as perguntas fundamentais da nossa turma de oitava série. Muitas risadas depois, ela me conta que havia namorado apenas esse cara, e pelo que entendi só transado com ele também. E ela era feliz da vida, com os olhinhos brilhando sempre falava que não precisava mais nada do que aquele diamante negro.
Nessa noite ao me levantar daquela mesa enfeitada com uma toalha vermelha, pedras místicas e incensos alucinógenos, aquela senhora cigana recolheu a carta de volta ao baralho e anunciou para mim: “Sem direção nenhuma ou com muita sobra. Equilíbrio é a palavra chave, e em qualquer coisa que faça, em qualquer relacionamento futuro que se meta, lembre-se disso.” Ela guardou a carta dos enamorados junto as outras e me acompanhou até a saída. Não importa as histórias, ou quem são os casais, ou melhor até como são esses casais, essa carta revelava que seria um momento muito gratificante da vida, pois mostrava o prazer de fazer o que se quer para viver.