As ruas daquele pequeno vilarejo estavam uma loucura. Pessoas levantando seus braços, mulheres falando alto batendo panelas e os homens, aqueles sujeitos troncudos com a raiva pulando de seus olhos vermelhos. Os dois agentes tentavam acalmar a turba, porém a confusão tinha sido armada. Um dos oficiais tirou um apito do bolso e fez o objeto soar mais alto que as vozes das pessoas. Todos prestaram atenção no mesmo momento, olhando para o policial:
_ Aquele malandro estava usando uma barba postiça. Vejam isso!
Ele abaixou e pegou a pelagem branca que estava jogando em um canto perto da taverna.
_ Mágico coisa nenhuma!
Protestaram alguns. Haviam sido enganados em um jogo simples, tinham que dar uma moeda para o velho sujeito, e este colocava o metal dentro de uma caneca. Na rústica mesa dobrável ele dispunha outras duas canecas, e assim, misturando tudo pedia ao “cliente” que escolhesse onde estaria a moeda. Se o sujeito acertasse o mago devolvia a moeda, senão…
_ Ele nos roubou!
Outros gritaram. Os dois homens da lei anotaram os nomes das pessoas que foram persuadidas no jogo e pediram paciência, pois iriam levar o caso ao delegado local para fazerem um busca pelos arredores. O esperto podia estar por ai ainda, visto que estava hospedado nos quartos de fundo da Taverna Curta, e pelos comentários talvez não tivesse tido tempo de fugir. Felizmente para aquele sujeito magrelo, que tinha uma habilidade incrível de se disfarçar, tirou a túnica roxa virando-a do outro lado e amarrou como uma trouxa e se fez de andarilho. Sem a barba e a peruca, seus cabelos loiros ficavam soltos e desgrenhados, e com o sorriso no rosto conseguiu ludibriar o dono do local saindo sem pagar nada.
Quando os oficiais chegaram ao lugar pelas pistas que haviam conseguido, já era tarde.
_ Aquele sujeitinho não era mágico, nem mago, nem coisa nenhuma se não um larápio de primeira. Não pagou pelas noites dormidas e ainda me levou uma das minhas melhores “garrafadas”.
A bebida que era tipo um elixir, dando mais vigor ao homem que a bebesse. Era dessa energia que o jovem “Fox Mãos Ligeiras” precisava para seguir para a próxima vila e quem sabe, enganar mais alguns indivíduos ingênuos para obter suas “recompensas”, que era como ele chamava o espólio que conseguia com seus truques. O Mago nessa época também era conhecido como o mágico, aquele que trapaceava pela velocidade das mãos e a ilusão de ótica, jogando cartas, dados ou com as moedas dos outros. Sorte ou azar, porém com sabedoria e criatividade. Dúbio como todas as cartas do tarot.