Eu não me reconhecia no espelho. Como eu havia mudado tanto. Em tão pouco tempo. Não sentia mais o tempo, acho que a anos me vejo da mesma forma, que enxergo um eu, porém que em algum momento não era o que sou agora. Sei que em uma outra vida fui um cavaleiro. Mas é uma memória tão presente. Posso sentir a espada penetrando na minha carne. Não consigo ver seu rosto, e nem onde estou. Só sinto uma dor aguda quando o metal trespassa os músculos cortando tudo pelo caminho, veias, artérias, sinto fortes explosões no peito, sinto o sangue jorrar, sinto prazer.
Eu defendia um rei mais que tudo. Ele era meu Deus. Aquele homem eu respeitava mais que há meu pai. Sempre estive em batalha por ele, e por sorte sobrevivi a todas. Pelo menos até agora. Não sei se o que aconteceu estava em terreno de batalha. Não vejo os verdes dos campos e das colinas. Não vejo um ambiente em si. A cabeça está girando e girando. Sinto náuseas, mas não sinto meu estômago para vomitar. Coloco minhas mãos na cintura e posso sentir o peso de meus ossos. Me sinto incrivelmente forte.
Alguém me chama. Eu era um crente. Acreditava no Senhor e acima de tudo meu Rei. Quando fiz 40 anos ele me concedeu o direito a ter uma família, uma vida fora das grandes guerras. Eu trabalhava como conselheiro do Rei agora. Com minha experiência eu o ajudava junto de outros bravos homens, os próximos movimentos nesse tabuleiro. Tive dois filhos, minhas jóias, meu bem maior. Soube ali que meu amor pelo Rei não era o maior e único. Não era obstinação senão obediência cega. Não pude prever os acontecimentos. Eu estava duas semanas a cada mês longe deles. Eu só queria estar com minha família, mas eu continuava com o Rei. As duas semanas que eu podia aproveitar com minha família percebia o quão rápido meus pequenos filhotes estavam crescendo. Eu ouvia no início como um surruro. Porém agora sinto mesmo como um chamado. Algo que precisa de minha sensatez e minha força para batalha. Eu estou indo, onde quer que você esteja, vou te alcançar. Irei te salvar, minha rainha!