Não quero me casar com ele papai! A Princesa Macia estava furiosa e andava de um lado para o outro tentando convencer o Rei de que ainda não estava preparada para se casar. Ainda mais com um primo! Ele é asqueroso! Ela disse inconformada. O Reino de Pedras Valiosas passava por algumas dificuldades, tinha esse nome por estar em uma terra abastada de muito minério, mas havia pouca vegetação e quase nenhuma fonte de água pura. Eles tinham acordo com alguns reinos vizinhos e trocavam seus valiosos bens entre si, inclusive para manter a paz entre os mesmos. E esses negócios eram feitos há quase 4 gerações, em que os reis prometiam seus filhos e filhas uns para os outros, com os interesses comuns. Princesa Macia era pretendida do Duque do Rio Doce, primo de 3º grau, o que levaria a uma união mais forte e estável entre esses dois reinos até então, fazendo as Pedras Valiosas e o Rio Doce se tornarem a maior e a mais sólida potência para ser desafiada por outros domínios adjuntos ou por hordas de bárbaros.
O Rei era complacente com sua filha, mas a Rainha não queria saber de nenhuma desculpa dela. Você irá completar 18 anos e de acordo com nossos tratados deve-se casar com o Duque. Isso será bom para mim, para seu pai e todo o reino! Ela disse de forma severa. Só pensam em seus interesses, não se importam com meus sentimentos! E a Princesa saiu brava do grande salão dos tronos. Depois de um longo suspiro o Rei disse a Rainha que deveriam pegar mais leve com a garota, e que poderiam tentar um novo acordo com o Duque. A Rainha preocupada roeu as unhas e disse que nem imaginava se o Duque quisesse quebrar o pacto entre eles. Ficariam sem o acesso facilitado de uma boa fonte de água potável. Era o Rio Vermelho que circundava por trás do Reino do Rio Doce há pelo menos 3 dias de viagem de Pedras Valiosas. Para proteger o lugar, os bisavós do Duque construíram uma grande muralha que seguia serpenteando a parte acessível do rio, e com guardas armados com flechas, protegiam o lugar de intrusos e possíveis ladrões. Como suas terras eram abastadas de água, conseguiu os melhores acordos pelas melhores jóias. Não tinham ferreiros tão competentes como os de Pedras Valiosas também, então recebiam armas, armaduras e alguns objetos e ferramentas que utilizavam na construção e melhorias de seu próprio império. Sendo assim os monarcas de Rio Doce acabaram se tornando os mais poderosos de toda região, e os donos de Pedras Valiosas seguiam a risca todos os contratos, pois mais valioso que ouro é água, e o jovem Duque já sabia bem disso.
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Rato estava revirando uma pequena moita com um graveto quando viu na beirada de um charco uma linda donzela. Olhou para Fox e disse: Chegue aqui “Romeu“. Veja quem está sozinha logo ali no atoleiro. Ele não pode acreditar e não conteve o sorriso. Não sei se é sorte ou azar, mas preciso ir lá falar com ela. Rato torceu o nariz e aconselhou seu amigo a não fazer nenhuma besteira. Ela está longe de casa Rato. São pelo menos umas 2 horas de caminhada até o castelo das Pedras Laranjas. A grande estrutura toda dourada era cravada de minerais valiosos e destacava-se ao longe pelo brilho intenso quando o sol refletia sua luz. De onde estavam era como ver uma estrela pulsante e era a casa de Princesa Macia.
Vossa Alteza! Ele aproximou-se tirando a touca da cabeça e ajeitando os cabelos salientes. Oh, você me assustou! Ela se levantou e ajeitou o vestido que estava enrolado na altura dos joelhos. Desculpe, não foi minha intenção. Deu um passo para trás para deixá-la mais confiante. Quem é esse? Ela apontou para o sujeito com o nariz adunco e dentes proeminentes. Ah, esse é Rato. É um amigo… Primo! Cortou o rapaz. Somos primos, Fox não admite mas somos da mesma família. A linhagem é antiga e… Ah tá, tá! Fox cortou a fala do outro e deu um sorriso sem jeito. Isso não importa para ela Rato. Somos o que somos, mas e você, está um tanto longe de sua casa não majestade? Falou com um tom de sarcasmo na voz. Ela apertou os olhos percebendo isso e não gostou nada. E o que tem? São as terras do meu Reino, posso andar por onde eu quiser. Ela disse de forma atrevida. Uhhh temos uma garota valente aqui! Rato deu uma risada. Pare com isso! Fox irritado apontou o dedo para Rato. Não há nada demais Princesa, porém, você está me reconhecendo? Ele olhou com duvidas para ela. Após alguns segundos ela abaixou o rosto, passando um dedo sobre o lábio inferior. Levantou a cabeça furiosa e foi para cima de Fox, dando socos em seu peito. Claro que me lembro de você seu descarado. Você… você me roubou um beijo! E ficou vermelha de vergonha. Meu primeiro beijo, ela quase sussurrou. Ele a segurou evitando os golpes e os dois ficaram com seus rostos muito próximos. Estou apaixonado por você Princesa Macia. Ele olhou fundo nos olhos dela. Planejei roubar um beijo como uma aposta de que seus homens não têm competência para lhe proteger, mas com isso, você também me roubou! Ela olhou para ele curiosa, sem entender direito aquela situação. O que você está dizendo, plebeu? Desdenhou de Fox puxando o braço e tentando se afastar dele. Ao fazer isso tropeçou e antes de cair o atento garoto conseguiu segurá-la. Rato deu um sorriso de canto e pode ver corações saírem dos olhos dos dois apaixonados.
Enquanto isso no Reino Doce, o Duque estava furioso em saber que a Princesa não queria se casar com ele. Ela não me quer, não deseja ser a maior Rainha de todos os domínios conhecidos pelos homens. E quebrou uma corrente de pedrinhas brilhantes que puxou de um grande cálice que havia sobre um aparador. Olhou para um sujeito alto de olhos marcados e a pele pálida que usava uma roupa pomposa. Eu preciso de um plano. Preciso convencê-la de que sou o melhor pretendente da sua mão. Sou um cavaleiro Sir Barr, o melhor de todos! Bradou em alto e bom som. O sujeito passou as mãos em sua roupa e concordou. É sim senhor Duque Doce. E fez um gesto de reverência. Então vai me ajudar a convencer aquela garota. Seus pais já deram o aval, eles precisam de nossa água, não vão querer prejudicar todo o reino de Pedras Valiosas, e como sua única filha, aceitaram sem muita relutância meu pedido. O problema que dentro de todo nosso continente ela é a única filha, a única mulher com idade para ser a minha consorte. Por isso tenho que tê-la, para unir os reinos, para nos fazer a maior monarquia de todas. Você vai me ajudar, arrume um esquema e te prometo o Ministério do Tesouro. O camarada apertou os olhos imaginando a quantidade de riqueza que teria controle, e em tudo que poderia ter com aquele poder. Considere essa missão cumprida Duque. Irei me apresentar como eclesiástico e farei os pais assinarem um documento que lhe irá conferir autoridade sobre a Princesa Macia. O Duque Doce abriu um sorriso maquiavélico e Sir Barr saiu para seus aposentos.
De volta ao pântano, Fox e Princesa Macia trocavam beijos e golpes. Como posso convencê-la de meu amor, Princesa? Ele perguntava segurando suas mãos e puxando-a para mais perto. Recebia um tapa no rosto e ganhava um beijo ardente. Não podemos, você é um plebeu! Ela escapulia de novo. Serei seu pobre peão, farei tudo o que você me mandar, te protegerei de todo mal. Ela dava risadas. Você já é meu vassalo. Mora em meu reino, deve fazer minhas vontades. E voltou a rir. Ele torceu o nariz contrariado e a retrucou. Sou livre minha Princesa. Eu durmo onde quero, faço o que quero e quando quero. Mas por você, eu largaria toda minha liberdade. Ela olhou espantada por aquela revelação, porém não quis dar esperanças a ele. Eu estou prometida, não posso quebrar o contrato! Ele a soltou sem entender o que aquilo significava e ela ficou olhando para ele com olhos tristes e gentis. Sinto muito. Se aproximou e deu um beijo bem devagar em seu rosto. Não podemos ficar juntos, no entanto, pelo menos mais uma vez eu quero vê-lo! Se desvencilhou dos braços dele e saiu correndo pelos arbustos sumindo da vista do jovem apaixonado. Ele se sentou na grama suspirando. Ahhh Rato! Colocou a mão no peito. Eu sei, eu sei, estou aqui para escutar toda ladainha. E sentou-se ao lado de Fox. Os dois sujeitos trocaram risadas e encararam ao longe o brilho mágico daquele castelo.