Sara…

É para escrever a história dessa garota de cabelos pretos e compridos. Não dá para negar o refluxo, como desandou essa semana para uma produtividade quase zero… já foi assim em outros lugares e você se deu muito bem, com pessoas que você nem conhecia, então por que agora seria tão diferente assim? Num era o tal futuro “agora” acontecendo e eu sendo feliz compartilhando felicidade alheia, todo mundo colorido como um arco-íris? Gosto disso cara, de verdade… como curto preto e branco também, e sei que períodos de secas são necessários para a valorização; alheia também!

Como várias espécies que se dão bem, infinitos exemplos entre os insetos, principalmente aqueles que o próprio homem já criou…

Tenho um pavor absurdo de baratas e nunca havia pensado nisso até hoje… ele olhou pra ela com expressão de perplexidade, os olhos arregalados não acreditavam que ela tinha alguma fobia sendo tão nova… todos já têm; têm pessoas mais novas que eu que já têm essa porra toda… Ele ri do jeito esculachado dela e gosta do que vê. Por que ela não é linda, e está longe de estar feia, e tem esse jeito todo largado que só quer perguntar e saber e experimentar sobre tudo e tudo mesmo, por que é jovem e blábláblá. Você já viveu isso, sabe o que estou falando então. Ao mesmo tempo irritante e cativante. Não tem como resistir e é um tipo de hipnose, aquilo te renova, te faz bem, não é uma questão de idade ou idolatrar a juventude, se você tem um mínimo de experiência sabe que vai poder tirar mais prazer das coisas que faz.

Sara havia procurado ajuda de um terapeuta ou alguma dessas coisas que misturam exoterismo, ou estilo de vida… não entendi direito, ela disse sem muita certeza sobre o que estava procurando, mas um tanto entusiasmada com a figura dele. A convicção da idade é uma coisa linda de se ver. Depois que passa por diversas, digamos aventuras em sua vida, mesmo que seja ser caixa de qualquer coisa, qualquer tipo de comércio aleatório que seja, ela tinha certeza que ele ficou interessado nela pelo próprio jeito dela mesmo. Malditos, ou seria melhor, benditos escorpianos. Não tenho nada contra nenhuma profissão, a pessoa escolhe o que quer fazer, mesmo quando tem gente que fala que a vida levou para outro caminho e ela não se permite ir além daquilo que já faz, e fará provavelmente por uns 40 anos. Sara olha pra ele incrédula, fica mais curiosa ainda. Uma situação que já ocorreu com ele diversas vezes, e com personagens variados. Ele sempre gostou da aventura, mas tinha suas opções como qualquer ser humano as tem. Sara calçava chinelos de dedo e usava um jeans surrado com um moleton cinza por cima, o capuz escondendo um pouco dos cabelos. Tinha um sorriso enorme. Desafiava-o tirando com um sarcasmo incrível, uma inteligência como se diz, aguçada de esperteza, não era só não saber, mas às vezes, sabia que estava atuando para ter aquilo que precisava ou que acreditava querer, como uma informação que seja.

Sara seduzia e gostava muito disso. Não era a mais popular nos tempos de escola, mas acabou. E tão rápido ela poderia estar numa sala de aula de alguma faculdade particular, inclusive exterior, poderia escolher qualquer outra coisa. Algo não muito comum, no entanto conseguida por conta de uma verba considerável fez com que ela tivesse emancipação aos 17 anos, agora tinha uma poupança bem gordona, e uma fome de lobo cadavérico, desses que não vê uma presa há dias, e está sedento, no caso dela, de conhecimento puro.

Divina seja a curiosidade humana, a garota que ia a terapia uma vez ao mês, no terceiro encontro sugeriu que devessem ter mais tempo juntos, se quiserem experimentar algo juntos, criarem algo juntos, serem algo juntos.

Sara contou para ele de seu problema. Depois que perdeu os pais no acidente, seus sentimentos se tornaram mais fortes, eles estavam se manifestando fisicamente. E ela podia interagir com esses seus sentimentos. Não tinha controle, e nem sabia se queria ter, no começo assustada por visualizar a coisa toda, e com o tempo o convívio deixando fluir seus monstros interiores, ela conheceu outras aberrações internas e deixou todas pularem pra fora de seu ser. A fúria com que o ciúmes dela veio quando ele comentou de sua ex namorada, mostrou uma explosão descontrolada que podia ferir fisicamente pessoas.

Sua expressão se transformou na hora, e algo absurdo e forte foi dito e atirado por ela em cima dele que levou um susto danado mas sabia, ou pelo menos acreditava nisso, que entendia o ciúmes dela. Claro que cada pessoa sente suas coisas do seu modo, nem mais nem menos que os outros. Mas por ser 20 anos mais velho e trabalhar ouvindo os problemas das pessoas, ele constatou que ela estava tendo o reflexo de que ele era um cara legal, confundindo seus sentimentos, pois ele não julgava, não criticava, não falava nada, apenas ouvia. Sara não sabia que isso era possível e se deixou levar, o monstro da paixão domina bem rápido, pode não ser furioso como o do ciúmes, todavia era tão perigoso quanto.

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Autor: pericles

Uma pessoa apaixonada por artes em todos seus âmbitos, um artista, um professor, um escritor entusiasta desenhando com letras! =)

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