Quando Buk percebeu estava com um sujeito um pouco mais alto e encorpado ao seu lado, vestindo em sua roupa as cores da Nação. Em uma galera clássica, ele navegava junto ao Principal Comando da Nação, os especialistas, os melhores dos melhores marinheiros, militares, caçadores, claro, esses devidamente pagos a parte. Mesmo assim ficou pensando nessa situação, desde bem pequeno, quando estava na banheira fingindo ser um barco que afundava pois a água estava a sua volta, ele se imaginava vestindo as cores dos piratas.
Acho que é uma loucura isso que estou fazendo, sou muito jovem, já vivi essa situação uma vez e essas cicatrizes todas me alertam do como podemos morrer no dia de hoje! Estava com os olhos arregalados e havia umas boas duas horas que estavam ali e não trocaram uma só palavra. O oficial ao seu lado se permitiu um gesto delicado e tentou confortar o jovem Buk colocando uma mão no seu ombro. O garoto não reagiu, ficou quieto forçando a vista, sabendo que a qualquer momento poderia ocorrer um ataque. Já navegavam há dias para dentro do oceano, já haviam cruzado o Recife das Baleias e a pequena Ilha de Cristais de Aquário. Na primeira vez, quando um camarada baixinho e calvo com um lenço amarrado de lado na cabeça e com um protuberante dente superior sendo palitado por grossos dedos peludos chegou na porta de sua casa com um papel amassado. Parecia um “anão” de um livro de fantasia. Mas era real, Buk não conteve o sorriso e abraçou e dançou com esse sujeito que até que era gente boa. Deu a notícia e seguiu seu caminho sem mais delongas.
O garoto virou grumete e estava na gávea de um belo barco de madeira e ferro fundido. Nos primeiros dias soube se situar muito bem, olhando para todos os lados e anotando num caderno sua posição em relação ao que via no horizonte. Tendo o cuidado de anotar detalhes e características, Buk era um sujeito bastante entusiasmado sobre as coisas que iria ver, praticamente tudo seria novidade. Viajaram por dias até o ataque das bruxas-sereias. Ele tem certeza que eram mais de uma pois ouviu gritos assustadores o tempo inteiro, e não eram apenas dos marujos. Agora pela segunda vez, seu corpo alertava mais forte, a cicatriz da barriga repuxava curiosa e ele se encurvava para suportar a dor.
Acho que fui envenenado senhor. Desde que fui resgatado nunca me recuperei totalmente. Sinto uma fome danada, e um desejo… Parou de falar quando avistou algo pela luneta. Lá senhor! O Oficial pegou o objeto e levou ao olho direito seguindo o dedo apontado de Buk para o além mar. Alguns segundos foi o suficiente para o som chegar aos ouvidos. A melodia era linda, não sei nem explicar. Alguns falariam que é música élfica, eu acredito que é música da natureza, o que não deixa de ser élfica também! Paralisado de horror e completamente entregue aos prazeres daquele som, seu corpo amoleceu e Buk entendeu que seria naquele momento o ataque.