Os olhares deles se cruzaram e tudo que se passou em seguida foi tão rápido que ela não teve tempo de reagir. Ele roubou-lhe um beijo em sua boca macia e pulou de sua carruagem fugindo pelas árvores.
“Rápido seus idiotas!” gritava do lado de fora o comandante da vigilância, Sir. Althus Baishignon. Dois guardas corriam de um lado para o outro tentando ver para onde o suspeito teria fugido e se deixara alguma pista. E mais um corria na mesma direção em que o suspeito, só que a pé. Claro que ele não o alcançou. O sujeito em questão, além de mais esperto era mais rápido também. E pulando feito um macaco prego, sumiu por entre as árvores. Foi logo que os guardas pararam de perseguir o escroque, o superior comandante estava revoltado falando muito alto, quase gritando com seus comandados. E a garota estava aturdida. Assustada é claro, mas tinha uma leveza em seus olhos e um leve sorriso em seus lábios. Dentro da carruagem uma senhora que parecia ser a ama, ou sua tutora, chorava desenfreadamente pelo susto. Do seu lado, o cocheiro tentava consolá-la abanando-a com um lenço fino. O aspecto dos dois era clássico. Ele era alto e magro com o rosto fino marcado pelos ossos. Poderia muito bem ser um agente funerário. Já a ama, tinha em seu rosto o aspecto saudável de faces rosadas e um enorme corpanzil abaixo do que parecia ser uma dobra no pescoço. A garota então pôs a cabeça pela janela e procurou pelo seu ousado malfeitor. Forçou os olhos mas nada viu, então virou a cabeça em direção ao superior comandante.
“Vamos embora, por favor, minha ama não está se sentindo muito bem.” Ela disse calmamente.
“E a senhorita, como está se sentindo?” Ele alisou os bigodes arruivados.
Ela voltou com a cabeça para dentro da carruagem ignorando os olhares insinuantes dele. O cocheiro assumiu seu posto e então seguiram caminho. Os soldados se reorganizaram, alguns a pé, outros em cavalos, cercando a carruagem pela frente, pelos flancos e pelas costas. Um dos soldados observou Sir. Althus por um momento. Seu comandante estava sobre um corcel branco muito forte e vistoso. Ele rodeou por alguns segundos uns metros a frente. Então ele fez o mesmo, só que mais para o sul. Pode observar bem ao alto um movimento diferente nas folhagens das árvores. Ficou pensando se aquele crápula não estaria escondido naquela imensidão de telhado verde. Então puxou as rédeas e fez seu cavalo seguir o roteiro de defesa exigido com execução perfeita e sincrônica como as das cavalarias romanas dos contos humanos.
Todo o lugar então ficou em silêncio profundo. Até as velas em seus candelabros dançavam lentamente criando uma leve penumbra amarelada no ar.
_ Isso tudo aconteceu agora pouco, a cerca de uns trinta minutos mais ou menos.
_ E como você sabe disso tudo, hein rapaz?
Perguntou um sujeito de ombros largos, barbas crespas e bochechas gordas que palitava os dentes no canto da boca. Sua face lembrava a de um pirata bem malvado. Aquele sujeito magrelo não havia calado a boca desde então, contando sua história delirante enquanto bebia uma cerveja gelada e comia uma salsicha apimentada. Ele jogou dois sacos de flanela para cima e pulou do banco onde estava sentado perto sobre o balcão. Pegou seus pertences, tirou uma moeda de ouro e deu uma piscada para o gordão:
_ Eu sou o ladrão!