É uma falta de entendimento mútuo. Eu não consigo entender as pessoas que estão completas e entregues a uma vida que não faz o menor sentido, numa correria danada para pagar contas e comprar coisas que não precisam, e para isso se matam durante 11 longos meses, fazendo sacrifícios, engolindo sapos, passando por tormentas que deixam suas cabeças pegando fogo, mas continuam, bravamente, ou justo, por não saberem mais o que podem fazer, continuam mesmo em fatigadas, por não verem que não existe um futuro, e que seus sonhos poderiam e deveriam ser realizados no momento agora, uma questão de escolha. E daí me olham sem entender, quando digo numa cara limpa e tranquila, pelo menos metade e metade, se querem que eu me mate, me deem 6 meses de férias e os outros 6 meses entregarei minha alma ao diabo e farei o que os chefes mandam.
Não consigo mais me ver assim, foi difícil sair, dizer para vocês que os perrengues da rua são piores que os que a zona de conforto nos dá, seria hipocrisia. Não é fácil escolher uma marquise para ser seu teto em uma noite chuvosa do inverno. O medo te faz tão alerta, que o corpo não descansa nunca. Você quer se proteger e proteger suas coisas, mesmo sabendo que são coisas materiais, e que com certo esforço pode ter tudo de novo. Mas sair da zona de conforto, levantar numa manhã ensolarada e olhar o mar, te faz pensar. O que vou fazer hoje, ou o que posso fazer hoje. É muito mais poderoso que qualquer carro, qualquer viagem, qualquer compra, qualquer bem material que você pode adquirir, qualquer conta que pode pagar adiantado e acreditar que com o pouco que lhe resta no banco fará uma alegria danada bebendo com os amigos nos bares da vida.
Sem chance, tá difícil imaginar voltar pra zona de conforto, tá difícil imaginar voltar a dormir na rua, o que eu quero mesmo é viver no equilíbrio, nem tanto a terra, nem tanto ao mar. Digo o que gostaria mas sempre é uma tentativa, a vida é feita de tentativas, e erros, e acertos, e caminhos que você escolhe seguir, pessoas que você escolhe manter, amores que escolhe viver. Independente disso, uma coisa é certa, não importa qual o perrengue está disposto a passar, não importa o quão importante você acredita que seu problema é, dá para ser pior do que já é. Se você puder escolher, tente entender que tem que ser no certo, tem que ser no bem, por que caso dê alguma merda, você ainda pode deitar a cabeça tranquilo para o próximo dia começar de novo, no entanto de alma limpa.